João Batista cai sentado no chão. Mãos ágeis e firmes o amordaçam com um lenço verde e depois amarram seus pulsos com um pedaço de cipó. Ele assiste, de olhos esbugalhados, algo que o deixa completamente horrorizado, escutando som de mastigação.
Salomé passa as costas da mão na boca, limpando o sangue.
– Que delícia digo eu! – Ela sorri e a prótese brilha em seus dentes.
A prostituta enfia a mão em sua bolsinha e tira lá de dentro o muiraquitã. Começa a passá-lo sensualmente pelo rosto, os lábios, o pescoço, o colo.

– Você acha que eu sou uma antifalocrata radical? Ou que eu gosto tanto de homem que meu prazer virou uma perversão? Ou que eu sou uma neoamazona? Nem El Dorado nem Inferno Verde. O Pau-Rosa está no fim. Maníaco sexual é homem matando prostituta, eu sou prostituta matando homem. Virei Icamiaba no Iaci-Uaruá. Sabe quantos eu já engoli?

Kojak e Bareta entram correndo pela porta do motel.

– Eu, Salomé Amazona, perseguida pela polícia e pelo crime organizado, súdita do culto priápico icamiaba, psicopata tarada, clepto-grastro-maníaca-sexual, meu caso terá vasta bibliografia na psiquiatria criminal, vai virar filme, depois de Garganta Profunda, O Boquete Assassino!

Kojak e Bareta sobem correndo pela escada do Motel.

– Quer que eu justifique o que eu fiz?
João Batista olha-a desesperado.

Kojak e Bareta correm, de arma na mão, pelo corredor do motel.

– Eu gosto é de engolir!

De repente, Salomé escuta som de passos e se apavora. Tenta guardar o muiraquitã na bolsinha, mas, sem notar, deixa-o cair no chão. Foge pela janela.
Kojak e Bareta entram no quarto, empunhando as armas, e encontram apenas João Batista, que olha-os desesperado, agonizando. Kojak vê o Muiraquitã caído, agacha-se e pega o talismã.
– Olha o que eu achei.
Bareta olha para o amuleto. Os dois policiais olham para João Batista, se entreolham e fitam de novo o muiraquitã. Kojak faz um gesto com a cabeça para Bareta, que pega o travesseiro na cama. Bareta se aproxima de João Batista com o travesseiro na mão.
O travesseiro cresce no campo de visão de João Batista, tapa sua visão e ele sente a textura macia asfixiá-lo.

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