28 julho, 2009


Muiraquitã, muiraquitã de minha bela,
vejo você mas não vejo ela!
(Macunaíma)




neomuiraquitã
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O perito encontrou marcas

de arcada humana. Ele acha

que a assassina ou assassino,

sei lá, deve ter usado uma

prótese de metal bem afiada.



CARALHO
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Literalmente.

É o terceiro homem

que morre castrado,

com as mãos amarradas por um cipó

e amordaçado com um lenço verde.

O lenço dos três tinha

o mesmo perfume.

É uma assinatura.



Estamos diante de um

serial-killer!
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A região do Amazonas era um grande pólo de desenvolvimento cultural antes da “sifilização” branca chegar. Ela era dominada por uma tribo de mulheres guerreiras que extirpavam um seio para melhor manejar o arco. Elas se autodenominavam Icamiabas, que quer dizer Mulheres Sem Marido. Para perpetuar a tribo, recebiam índios das aldeias próximas, na noite de lua cheia, às margens do Iaci-Uaruá, que significa Espelho da Lua. Ao nascer do sol, mergulhavam, tiravam do fundo do lago uma lama verde e esculpiam o muiraquitã. Ao se despedirem, davam o amuleto de presente para os amantes, a fim de protegê-los nas guerras. Nove meses depois, se nascesse filho homem, elas afogavam; se nascesse mulher, criavam para perpetuar a tribo.


A arma que ela usa foi fabricada especialmente para esse fim, e pode ser que ela castre as vítimas desacordadas. Nesse caso, ela quer simular que castra as vítimas com uma mordida. A construção da cena faz parte da patologia do psicopata. Mas pode ser também que seja uma prótese móvel, que ela bota só na hora do crime, e tenha mesmo uma força descomunal na mandíbula.


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E eu sempre tive tara por mulher de aparelho.
A Federal vai coordenar uma busca no Brasil todo
atrás do protético que fez a arma do crime



Trepar é humano, chupar é divino, morder é sacanagem.
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Chupa, piranha! Ah! Gostosa! Ah! Sua puta! Ah


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Chupa, sua puta! Ah! Gostosa! Piranha! Ah!


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Chupa, sua puta! Ah! Gostosa! Piranha! Ah!



Peguei o serviço pelo rádio. O cara era dono de uma grife de roupa chamada Metrópole Romana. Loja em tudo que é shopping bacana da Barra.



Casado, dois filhos. Foi dar uma escapadinha e...
Que piranha filha da puta!



Se disfarçar de prostituta é boa idéia. Ela é inteligente.


A imprensa molhou a mão do faxineiro do motel. A essa altura já está tudo na Internet. Imagina a manchete no jornal de amanhã: “Serial-killer arranca genitália masculina a dentadas.”



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Lá onde eu moro, os malaco tão puto. Ninguém mais sai à noite, ninguém mais compra drogas. Eles acham que a culpa é dessa mapoa do mal, a assassina do boquete!



– Dez reais o programa.


– Eu tenho medo.



Está me confundindo com a assassina do boquete?



Festa.Jovens dançam black music.
– Olha a Alessandra, que gata!
Maravilhosa!
– Ela pode ser a assassina do boquete.
Qualquer uma pode ser.

– Vou pegar mais bebida.
Uma mulher o intercepta, abraço-o.
Oi, gatinho. Quer me levar em casa hoje?
Eh... Não posso ... tenho que trabalhar super cedo amanhã.
– Ontem aconteceu uma coisa super chata.
– O que foi?
– Eu quis fazer sexo oral no meu marido e ele não quis.
– Vai ver ele não estava a fim.
– Hum... O Lucas adora. Eu fiquei desconfiada...


Ah! Que é isso! O Lucas é apaixonado por você. Eu acho que os homens estão meio perturbados por causa dessa serial-killer.
Sério?
– Só se fala nisso.
– A putaria dominando o mundo.



Kojak dorme. Tem um sonho ruim. Mexe a cabeça de um lado para o outro, gemendo angustiado.
Ele levanta da cama e sai andando pelo quarto com as mãos esticadas na frente do corpo, sem enxergar nada.
– Onde estão as imagens? Onde estão as imagens?
Em seu sonho, vê a si mesmo de fora, como se fosse outra pessoa: a pele recobre o lugar onde deveriam estar seus olhos.
Kojak dorme, mexendo a cabeça de um lado para o outro, gemendo angustiado.
–A Federal encontrou um protético lá no Ceará. – Kojak revela. Ele pesquisava novos materiais. Fez uma prótese de uma liga de metal indestrutível que chamou de adamantium.
– Homenagem ao Wolwerine.
Quem encomendou a prótese foi Yolanda Mandeli Valleroy.
– A assassina.
– A mulher é de uma família tradicional de Manaus, descendente dos barões da borracha. Antropóloga. Ela fazia pesquisa de campo na Amazônia. Resolveu ficar na floresta. Abandonou a pesquisa. Dizem que enlouqueceu.
– Como é que uma mulher de família, estudiosa, faz um negócio desses?!
– A Yolanda é suspeita também de ter roubado uma escultura indígena do museu Dragão do Mar, em Fortaleza. O Muiraquitã.
Muiraquitã?
Kojak
mostra a página do relatório da Polícia Federal para Bareta.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL

Objeto desaparecido : muiraquitã


– O amuleto era considerado uma divindade pelas Icamiabas.
Icamiabas?
– É o nome das Amazonas, aquela tribo só de mulher. Aquelas que tiravam um seio.
Bareta examina a foto mais de perto.
– Parece um pênis encolhido.
– A peça que ela roubou era um Muiraquitã raríssimo. Vale uma bela grana.
– Ela roubou o muiraquitã, fez um aparelho de adamantium e veio ser serial-killer no Rio de Janeiro. Essa mulher tá a fim de aparecer!
– Pode ser, mas a polícia não conseguiu nenhuma foto dela. Depois que voltou da Amazônia, a Yolanda eliminou todas as fotos dela do álbum de família e de outros arquivos.
Kojak entrega a Bareta um frasco de perfume contendo o líquido verde.
– O perfume que ela usa no lenço verde é de uma essência da Amazônia que mistura pau-cravo com pau-de-sassafrás.
– Essa mulher só pensa nisso! Eu já ficando enjoado.
– O óleo usado como fixador é o mesmo do Chanel n° 5.
– Chique.
Bareta
destampa o frasco.
– Tem também um elemento sedativo na composição.
Kojak
joga o relatório sobre a mesa e diz:
– Sexo é o melhor negócio da economia mundial. A Yolanda está atrapalhando os negócios. Caiu o movimento da prostituição, do tráfico, da propina pra polícia...
– Nós sabemos...
– Está ruim pra todo mundo. Só tem um jeito de pegar essa psicopata.
Bareta cheira o perfume.
– Hum! É afrodisíaco?
– Vamos espalhar amostras do perfume para o crime organizado. Os bandidos vão farejar ela pra gente.


chocada!
O travesti tira a Bíblia de bolso da bolsinha.
– Salomé é a dançarina que pede a cabeça do João Batista na bandeja. Ele é o profeta que anuncia a vinda do Cristo.
– Lá vem você.
O travesti lê com dificuldade a mini-Bíblia:

– A vaidade, o orgulho e a soberba jamais estiveram presentes em São João Batista. Por sua fidelidade cristã, ele é confundido com o próprio Cristo, mas, imediatamente, retruca: 'Eu não sou o Cristo.
– A mona de Deus. Era o que faltava!
– Salomé é um aviso.
– Você recita a Bíblia pros homens que te pagam também?
– Eles só querem saber de gozar e ir embora.
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– Essa noite eu tô a fim de um negócio radical. A Claudinha não gostou dos palavrões que eu disse quando a gente tava transando. – João Batista Alcântara de Sá pensa consigo mesmo, enquanto caminha pelas ruas do Centro. – Ela se fazia de liberada, mas é meio fresquinha. Eu achei que ela ia ficar excitada. Também que se foda! Essa noite eu a fim de um negócio mais radical. Eu não sei direito como esse negócio de ficar falando começou... No início eu também achava meio ridículo, mas agora, pra mim, sexo virou uma coisa... quase verbal. Falar me excita. Palavrão é que nem viagra. Essa noite eu a fim de soltar o verbo!